4.27.2009

Sou muito mais o que sonho
Para além do que mostro
Sou o amor que em tudo ponho
E o empenho quando não gosto
Sou as emoções que baralho
Quando penso demasiado
Acabo por ser o que falho
Sempre que escolho o errado

4.24.2009

Cabeça de Babel

Tenho este problema: não consigo esquecer-me de nada. Não consigo abstrair-me de nada. É como se tudo existisse e vivesse em mim, todas as coisas do mundo ao mesmo tempo na minha mente.
Nesta minha cabeça de Babel, também o meu tempo nem sempre acerta o passo com o tempo que marcam relógios, tic-tacs variados que me fazem sentir sempre atrasada para um qualquer encontro. Tanta coisa a existir, tanto tempo para acertar o passo comigo, tanto tudo ao mesmo tempo que me dói tudo. Vivo em delay permanente. Nem sequer sei, depois, quando penso bem nisso, se estou realmente atrasada, desfasada neste tempo que me obrigam a cumprir porque me serve de guia. Não sinto, no entanto, os anos que tenho. Não sinto o fim nem o princípio do que sou. Quanto tempo têm estes peixes do meu aquário? Diz-se que os peixes duram poucos anos, poucos meses... Serão dias? Não sei. Se calhar sabem quanto tempo têm para nadar furiosamente no aquário em manobras de respirar sempre um pouco mais.
E por isso parecem eles mais livres lá dentro do que eu aqui dentro.

excerto do diário de Pandora Noreia Barbarosa

4.19.2009

O meu mundo é o fim do dia

O meu mundo é o fim do dia. Quando já não há sol, mas ainda não é noite e o céu ainda é azul e as nuvens de fogo laranja saturado e o ar fresco e os candeeiros da cidade acendem-se de nostalgia e as incontáveis janelas e os metalizados dos carros reflectem as luzes tristes e quentes das nossas noites e o céu tão azul ainda sem estrelas onde baloiçam, devagar, as copas das árvores já escuras sem verde e as sombras são coisas solitárias e caladas e eu olho lá para o fundo lá para cima onde as nuvens são de fogo e as janelas estão acesas e lembro-me das noites perfeitas deitado na areia ainda quente do deserto e de ti a vires ter comigo alegre sempre alegre e suave tão suave o teu toque quente, o teu abraço meigo e deitares-te comigo na imensidão sob a noite, o teu toque fresh night falling slighty over my flesh, lembro-me, então, que a minha alma é o fim do dia e fico em paz e profundamente feliz nesta fronteira tão curta e efémera, parado neste umbral quase a entrar em casa e é quando a noite cai e eu também e tu adormeceste e o meu coração avermelha-se de sangue e o mundo chama-me para si mas não é o meu mundo.
É só o outro lado do dia.

excerto do diário de Ângelo do Céu Grande

4.15.2009

Genuinamente a dois

Enquanto dormes, eu fico acordada a sonhar.
O prazer que me dá poder construir o melhor de todos os cenários e mudá-lo sempre que me apetecer só para dentro do sonho sonhar ainda mais é algo tão genuíno que até utilizando as melhores palavras não consigo exprimir.

Pois, há realmente sentimentos que devemos guardar para nós porque só nós, genuinamente, os entendemos. Dito já se tornou noutro sentimento construído à imagem do primeiro, já o consegues assimilar mas já tem a sua genuína falsidade.

Talvez por um olhar ou por um gesto igualmente genuínos o agarres, nem que seja só por um momento. Se assim acontecer perdurará na tua memória e em vez de dormires entraremos num sonho a dois...

4.13.2009

Brisa da Manhã

Os ponteiros do relógio deviam andar à velocidade de cada um. É injusto! Hoje eu precisava da manhã, precisava que aquelas horas se triplicassem, precisava que o tempo fosse extenso para transformar linhas em leis. Somos diferentes e os dias passam por nós sem monotonia e hoje precisava da manhã e hoje (agora!) cedia a noite. Troca por troca, tão simples. Mas alguém achou caprichoso demais ambicionar o tempo e trocar a ordem ao ontem, hoje e amanhã. Queria encontrar esse alguém, mostrar-lhe a equação da ambição ao quadrado, não ceder a noite e aproveitá-la para lhe explicar (tim tim por tim tim) o porquê de querer tanto a manhã, manhã essa que os seus olhos avaliavam como mais uma. Pronto, dando voz à indecisão não queria bem isso. Queria antes só uns cinco minutos (sim, bastava-me cinco minutos) da minha noite com o tal alguém e cedia o resto para descontar na manhã e queria ainda que ele tivesse coração. Assim fazia engenhosamente uma ligação directa do meu ao dele e conjugava-lhe o verbo amar no presente (um minuto), apresentava-lhe o eu e o ele (dois minutos), mostrava-lhe a sinceridade do sorriso dos seus mais recentes conhecidos no meu telemóvel (três minutos), pedia-lhe a manhã para poder ter um hoje na cara (quatro minutos) e cedia-lhe gentilmente sessenta segundos para me perguntar 'quanto tempo precisas?'

O sonho não me trará nenhuma brisa da manhã. É pena!

4.12.2009

Dieta de Sentimentos

Não precisamos disto.
As saudades consumiram-me durante tempos onde deixei de querer saber o que sentia. O que mudava lá fora após cada engano de que a cidade dormia não era adquirido pelos meus sentidos, era contado, por uma, duas e três pessoas. Mas era somente contado, não era assimilado nem percebido por mim ou não me tivesse esquecido de querer deixar de saber o que queria sentir. O meu discurso não era o comboio de segredos que tão bem sabia guiar. Os meus gestos eram falsas acrobacias controladas. Cá dentro estava feita em voltas e reviravoltas despidas de qualquer discernimento. Andava na montanha russa sem segurança porque não sabia te dizer não. Olhando-te, deixava sentir o que sabia não querer.
Não precisavas disto.
Eu ansiava saber não precisar.
E por fim aprendi, depois de uma dieta de sentimentos. Às vezes é bom ter como amiga a racionalidade.
Hoje os segredos tornam o meu comboio valioso.
E enriqueço em segurança.
Não preciso mais de saber querer, deixo-me sentir apenas!

4.07.2009

serás eterna à medida da minha eternidade

nunca me vou esquecer de ti, AVÓ


[amo-te]