12.28.2009

Um ano e outro

Sempre tive a palavra "sonhadora" associada ao meu nome. A minha mãe tinha a mania de dizer isso, ela acreditava mesmo. As pessoas que iam chegando à minha vida e ganhando algum espaço importante iam dizendo isso. Até naqueles postais que se costuma receber nos anos ou no Natal, tu sabes, aqueles que têm a descrição do teu nome, "sonhadora" estava sempre lá. Ou então no signo. Mais ou menos fiável tudo dava igual. No fundo eu concordava, não porque costumava ter muitos sonhos durante a noite, nada disso, eu concordava porque estando a estudar, a ver televisão, a ouvir música, estando a fazer qualquer coisa a minha cabeça parava, mas parava de tomar atenção à tal coisa para rumar noutra direcção. Sonhava acordada, é exactamente isso, muitas e muitas vezes. Tantas mais quantas a vida me deixava. Às vezes passava a ser verdade mas outras vezes não e houve vezes de períodos de seca dos sonhos. Tu percebes a ideia, não percebes? Pensa numa criança e num doce, se lhe dão um ela toma sentido e quer sempre mais, mas se não lhe dão até pode fazer birra mas acaba por esquecer no minuto seguinte com a proposta de uma qualquer brincadeira. O que quero dizer é que a vida eram os pais que diziam (quase) sempre à sonhadora criança, eu, que não! O sonho não podia passar a ser a minha verdade. Fui deixando de ter vontade, fui perdendo o hábito se assim se pode chamar, fui-me deixando levar demasiado pelo que existia e acontecia. E até criei defesas, tu sabes, tu ultrapassaste-as. Nessa altura a vida decidiu ser uns pais que oferecem um presente e dizem, tinha isto guardado para ti e chegou o momento de te dar. E, nessa altura, eu tive a reacção do filho, é bom ou é mau? É muito bom e agora? Esperava tanto por isto que agora... Que agora sonho mais do que antes porque o vivo, o sinto, o tenho, porque passou a ser a minha vida! E no fim do ano só posso dizer que quero mais um ano a sonhar isto. É o mesmo que tu, não é?

12.26.2009

Amar

Quando amamos alguém, não perdemos só a cabeça, perdemos também o nosso coração. Ele salta para fora do peito e depois, quando volta, já não é o mesmo, é outro, com cicatrizes novas. Às vezes volta maior, se o amor foi feliz, outras, regressa feito numa bola de trapos, é preciso reconstruí-lo com paciência, dedicação e muito amor-próprio. E outras vezes não volta. Fica do outro lado da vida, na vida de quem não quis ficar do nosso lado.

O dia em que te esqueci
Margarida Rebelo Pinto

12.04.2009

Preto no branco

E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu para sempre.

Não te deixarei morrer David Crockett
Miguel Sousa Tavares