12.20.2008

Enigmático enigma

Num fim de tarde como qualquer outro, tu não estavas igual ao habitual. Gosto de pensar assim, mas estou quase certa que o que mudou foi a minha maneira de te ver. Continuava a sentar-me na cadeira ao teu lado mas sentia que já havia alguma transparência no carregado fundo preto que dantes conhecia. Como que por magia a transparência ia e vinha, sem eu perceber como nem porquê e sem notar diferença no tom da tua voz. Nunca fui muito boa em analogias mas era como se num grande dia de sol começasse inesperadamente a chover e naquele fim de tarde não havia sol nem chuva. Enigmático, sem dúvida! Hoje, mais diferente estavas, mais diferente te via. Sentaste-te ao meu lado e falaste comigo, olhando-me nos olhos, tão perturbador como nunca antes ninguém tinha sido. O terreno, esse pisava-o pela primeira vez e a descoberta ultrapassava qualquer bom sentimento que pudesse, no fundo, surgir. Foi tudo tão diferente de tudo, foi estranho! Todas as pessoas conhecidas sentadas ao nosso lado esquerdo me diziam muito mais do que tu e não fui capaz de quebrar a ligação dos nossos olhos e de interromper a nossa conversa. És o meu enigmático enigma cuja vontade que tenho em o desvendar ainda não encontrou a melhor maneira para o fazer. Quem sabe noutro fim de tarde, em que o sol não se vá embora, em que a transparência seja completa, em que sintas a confiança necessária para te dares a conhecer, em que os meus cinco sentidos cheguem para perceber e em que, acima de tudo, na tua cara de miúdo por detrás de cada sorriso de criança consiga separar a verdade da falsidade. Até lá, continuo a dançar sem música, a voar sem sair da cama, a sonhar sem fechar os olhos, a perder-me nos lugares que melhor conheço e a encontrar-me nos que pela primeira vez piso, a ser malabarista de sentimentos e retalhista do coração. Até lá que me respondas o que vejo da janela. Até lá que não chova em dias de sol!

1 comentário:

Anónimo disse...

se não chover em dias de sol, não irás poder ver o arco-iris =P

adorei o texto